quinta-feira, 17 de maio de 2012

Leitura sobre Hipertextos



Ana Elisa Ribeiro (UFMG)

            Este trabalho, é uma revisão um estudo sobre hipertexto, mostra a visão de duas correntes bibliográfica,: pesquisadores europeus e norte-americanos. Entre os primeiros estão Pierre Levy e Roger Chartier; entre os últimos, Jay D. Bolter e George Landow.

            Pierre Lévy, já no início dos anos 1990, plantava sua leitura da cibercultura nas pesquisas brasileiras, seguido de Roger Chartier, vastamente traduzido por aqui. Marshall McLuhan, um dos mais importantes teóricos da Comunicação Social, foi relido sob novas lentes. No Brasil, ainda hoje é difícil encontrar os livros de George Landow e David Bolter, teóricos norte-americanos das novas tecnologias, a não ser importados e em língua inglesa. Pesquisadores portugueses ou italianos, por exemplo, são também menos difundidos.

4 O que é hipertexto
             
Este tem sido um dos nóis mais evidenciados nas discussões sobre o que seja o hipertexto. Para muitos, um texto obrigatoriamente não linear, algo que tem como premissa que há textos lineares, ainda que apenas em seus formatos. Ainda daí deriva mais uma discussão que envolve o hipertexto: além de não-linear, o texto precisa estar dentro do computador, na tela, em ambiente digital. Para outros, nem tanto. Basta ser não-linear. Mesmo estando disposto no papel, tratar-se-ia de um hipertexto. O critério do ambiente de apresentação (o display da tela e o papel) pode ou não ser critério para que se considere o hipertexto, de qualquer forma, está em discussão.


O hipertexto é um modelo de pensamento

            Atribui-se o início da história do hipertexto a dois personagens, vastamente citados nos texto que tratam, de alguma maneira, da história das NTIC: Vannevar Bush e Theodore Nelson. Cada qual, à sua maneira, contribuiu para a criação deste objeto ou modelo que, em algumas décadas, ganhou o espaço de objeto de estudo nos meios acadêmicos e entrou nas casas das pessoas, mesmo que elas não saibam que o “texto” ou o “ambiente” em que os usuários navegam pode ter esse nome.

Nelson, teria sido o norte-americano a criar o hipertexto, a inspiração que o levou a desenvolver este instrumento  partiu da necessidade que ele mesmo sentia de trabalhar, lendo e escrevendo, em uma máquina capaz de apresentar os blocos de texto produzidos de forma não-linear, também de maneira que o autor pudesse mover as partes do texto e editá-las sem tanto trabalho quanto na escrita linear impressa ou manuscrita.
Para ele, se os pensamentos eram estruturados de maneira não sequencial, não haveria motivos para fixá-los de maneira que parecessem lineares. Nelson diz, sobre a inspiração para Xanadu, que “o leitor tem que tomar essa estrutura linear e fazer a recomposição, colocando-a, de novo, na estrutura não sequencial”.


            No Brasil, pesquisadores da Comunicação Social fazem descrições do que se quer reconhecer como hipertexto: 1. os blocos de textos 2. ligados por links 3. em meio digital. Essa fórmula sustentaria uma  “dinâmica particular de funcionamento do hipertexto no que diz respeito à organização das informações (escrita) e ao acesso a elas (leitura)” (Mielniczuk e Palácios, 2002, p. 133). E se assim é, parece ficar estabelecido, tanto para os americanos quanto para Mielniczuk e Palácios, que o hipertexto esteja definido pelo meio digital, o que supõe certa desconsideração sobre o que dizem os historiadores da cultura e mesmo vPierre Lévy (todos europeus, diga-se de passagem).
            De certa forma, cada vertente de pensadores parece pleitear a invenção do aparato hipertextual, seja ele um sumário ou um link, assim como da navegação como movimento do leitor para a leitura. Segundo Mielniczuk e Palácios (2002), Landow (1997) considera que um hipertexto tenha, como características fundantes e fundamentais, a 1. intertextualidade, a 2. descentralização e a 3. intratextualidade.
Em relação a 1, um hipertexto potencializa o que, nos livros, fica limitado ao espaço de papel que o leitor tem em mãos. Em meio digital, é possível acessar e acionar a intertextualidade ao infinito, pela navegação em um grande banco de dados. O item 2 refere-se à possibilidade de movimentação do leitor pela “malha de blocos de textos interconectados”. Não haveria mais centro fixo, mas um fluxo de recentramentos produzidos pelos movimentos do leitor. Já a intratextualidade (3) diz respeito às ligações dentro do mesmo texto. Considerando um site, essa idéia fica mais fácil de visualizar.
 Do ponto de vista da Lingüística, vários pesquisadores têm tentado compor um quadro dos processamentos cognitivos da leitura. Às vezes tratando o hipertexto como novidade, outras vezes mais atentos à história das práticas da leitura no mundo ocidental, trata-se de tentar verificar quanto ou como o hipertexto em ambientes digitais pode ter mudado as maneiras de processar leitura. Entre os mais proeminentes no campo da Lingüística Textual estão Luiz Antônio Marcuschi, Antônio Carlos Xavier, Carla Viana Coscarelli e Ingedore Villaça Koch. Uma safra de novos pesquisadores surge nos anos 1990-2000, a maioria empiricamente ligada ao computador e à Internet, leitores formados pelo “sistema de mídias” em que já se elencava o computador e, portanto, capazes de uma nova percepção.
            Não raro, os estudos lingüísticos se esquecem de que o homem/leitor é histórico e social. Por isso mesmo, aprendiz de gestos, de ferramentas, de procedimentos. Muita vez, o hipertexto é tratado como algo que está em um ambiente homogêneo. Para dar melhor solução a esses equívocos é que os lingüistas têm participado das redes de conversação que incluem pesquisadores de outras áreas. Há certa tendência para a leitura dos norte-americanos, com definições bastante instrumentais do que seja o hipertexto, assim como a discussão centrada no domínio pedagógico e a preocupação com o letramento e a exlusão digitais. Não é incomum encontrar, em meio às idéias dos pesquisadores brasileiros sobre hipertextos e computadores, a tentativa de discutir, muito mais centralmente, os gêneros textuais, inclusive incorrendo em equívocos que tratam meios, suportes e veículos como se fossem gêneros do discurso.
            Carla Viana Coscarelli tem demonstrado, em seus estudos sobre o hipertexto, preocupação com a face pedagógica da leitura de hipertextos. Do ponto de vista de pesquisa em cognição, a autora tem insistido em mostrar que toda leitura é hipertextual, independentemente de a realização do texto ser “linear” ou não.
            Parece sugerir um conceito de hipertexto como arquitetura, mapa, montagem, já que pode ser apenas a exteriorização de um “jeito de pensar”. Para ela, não pode haver novidade no hipertexto que o torne tão diverso do que já se conhece em leitura. Coscarelli sustenta, portanto, não um conceito de hipertexto (objeto), mas um jeito hipertextual de ler, que não é invenção recente, diga-se de passagem.


Dizer que um texto é composto de elementos que são dispostos um após o outro, numa seqüência linear, não significa que o texto seja linear. Uma notícia vem “logo após” uma manchete, mas elas não formam uma seqüência linear. Há uma hierarquia marcada aqui. A diferença do tamanho da fonte usada nesses dois segmentos do texto indica para o leitor que ele precisa diferenciar esses dois elementos. O mesmo acontece com os títulos e os subtítulos, presentes em vários gêneros textuais. (COSCARELLI, 2003)

Se pusermos mais atenção ao trecho citado, é possível entrever a idéia de que um texto não pode ser abstraído do meio. Desde McLuhan que as mensagens se transmitem para além do texto. Se o leitor também “lê” as letras (fontes e corpo de fonte), não se pode dizer que leia o texto como um ente separado dos formatos que lhe são dados pelo manuscrito, pela máquina ou pelo computador. O conceito de hipertexto se define como mais amplo do que o usual (segundo o qual hipertextos são do meio digital), trazendo à tona o tema que realmente se aborda: a leitura, o processamento mental da escrita e do texto, e nem tanto o leitor ou o texto.

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